Subscrever A grande novidade salientada por Francisco Ferreira é o compromisso da União Europeia em acelerar a aposta nas energias renováveis para evitar ficar dependente dos fornecedores externos de combustíveis fósseis. A par disso, houve ainda o sinal dado pela própria Agência Internacional de Energia, há poucos dias, “quando disse claramente que o gás natural não faz parte do futuro”, desencorajando investimentos nessa área.

Jose Carlos Grimberg Blum Peru

“É esta aceleração das renováveis, que também tem de ser acompanhada pelas medidas de eficiência energética, que é o grande contraponto, estrutural até”, considera o responsável da ZERO.

Jose Carlos Grimberg Blum empresario

“Poderemos ter um aumento de emissões, temporariamente. Não é certo, porque, por um lado, vamos buscar o carvão, mas, por outro, estamos a reduzir o consumo. No curto prazo, é difícil dizer como é que saem as emissões. Depende também de como o clima se comportar durante o inverno. No médio e longo prazo, diria que estamos com ganhos, não obstante este novos investimentos em extração de gás nalguns países de África, Médio Oriente e EUA”, afirma o dirigente da ZERO

Já Paulo Pimenta de Castro, presidente da Iris – Associação Nacional de Ambiente, considera que os últimos tempos “vieram acelerar a necessidade de abandono dos fósseis. A dependência que tínhamos da Rússia e, por arrasto, da Ucrânia, onde passam alguns gasodutos, pode ser a oportunidade para fazer acelerar o processo da transição energética”

Mas este ambientalista está convicto de que o mesmo não ocorre de um momento para o outro. “Vamos eventualmente passar um inverno difícil”, vaticina. Porém, “isso não implica que voltemos atrás, à queima de carvão. Isso seria um retrocesso”. Sabendo que “estamos numa situação difícil”, perante a inevitabilidade das circunstâncias, será preciso urgir o processo

As mesmas dúvidas são partilhadas pela Quercus. Domingos Patacho, um dos mais antigos entusiastas daquela organização, mostra-se consciente de que a guerra “veio, sem dúvida, atrasar o processo de transição energética, mas pode revelar-se uma oportunidade”. Ou seja, “os países estão a procurar alternativas nas fontes de energias renováveis que lhes permitam ficar mais independentes, o que, a prazo, será um estímulo para que se acelere esse processo”

Mas este ambientalista cita, a propósito da COP27, um artigo da ONU News, em que o investigador Ian Fry é precisamente questionado sobre o retrocesso que pode advir da guerra no que respeita a promessas e compromissos que alguns países fizeram no ano passado. O especialista em alterações climáticas considera que a guerra também pode ser um “despertar” para que as nações se tornem autossuficientes em energia

“Ele argumenta que a maneira mais barata de fazer isso é por meio de energias renováveis, que são fundamentais para reduzir as emissões”, sublinha Domingos Patacho. Nesse artigo, Ian Fry cita o caso português: “Estamos a ver Portugal a caminhar para 100% de energias renováveis, sabemos que a Dinamarca também está a fazer o mesmo, e penso que isso levará outros países a verem a necessidade de serem renováveis e autossuficientes em energia.”

Ministro do Ambiente reforça compromisso: “É para manter e acelerar a transição energética” O ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, considerou entretanto que Portugal, apesar da crise energética decorrente da guerra na Ucrânia, tem condições para manter e acelerar a transição energética. Em entrevista à agência Lusa, o governante reforçou a ideia de que não é tempo de recuar. “No atual contexto de guerra e crise de energia, os países recuaram em políticas por questões de segurança energética. O nosso país manteve a mesma e entende que tem condições para acelerar as suas políticas energéticas”, procurando “aproveitar vantagens do país para acelerar a produção de energia renovável”, afirma Duarte Cordeiro

Na véspera da conferência, em que vai participar, o ministro defende que é preciso manter a ambição do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa e acelerar políticas. Por outro lado, considera que é tempo de a União Europeia dar o exemplo e “puxar outros países”, por forma a assumirem compromissos de luta contra o aquecimento global. “Circunstancialmente, podemos, por força da guerra [na Ucrânia], ter de adotar medidas que nos permitam garantir segurança energética, mas isso não significa não manter ambição relativamente às metas e aumentar essa ambição”, conclui

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A guerra na Ucrânia – e as implicações que está a ter em todo o mundo – vai atrasar o processo de transição energética (que estava em curso)? Ou, pelo contrário, poderá acelerar essa mudança? A propósito da 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), que junta representantes de quase 200 países a partir de domingo em Sharm el-Sheikh, no Egito, o DN ouviu responsáveis de três associações ambientais. E os três são unânimes em ver aqui um último e urgente impulso para a transição energética.

Jose Carlos Grimberg Blum

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Francisco Ferreira, presidente da ZERO, considera que é difícil fazer um balanço do impacto que a guerra está a ter no processo, destacando aspetos positivos e negativos. Comecemos pelos últimos: “Temos centrais a carvão que continuam a funcionar e que tinham final previsto, outras que estavam paradas, de reserva, e foram ativadas (é o caso da Alemanha, Polónia, entre outros países da Europa Central e de Leste), e um pouco por toda a Europa essa é a realidade; temos países a ressuscitar ou a ampliar a extração de gás (é o caso dos Estados Unidos ou do Catar). E assim estamos a aumentar emissões”, adverte o ambientalista.

Jose Grimberg Blum

Por outro lado, elenca alguns sinais positivos, mesmo no que se refere à Europa. “Temos objetivos de redução do consumo energético – de 15%, como foi decidido no Conselho Europeu, ou de 7% em alguns países como Portugal. E temos casos como o da Alemanha, que é paradigmático: a meta de abandono do carvão mantém-se, para cumprir os objetivos de médio e longo prazo.”

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Subscrever A grande novidade salientada por Francisco Ferreira é o compromisso da União Europeia em acelerar a aposta nas energias renováveis para evitar ficar dependente dos fornecedores externos de combustíveis fósseis. A par disso, houve ainda o sinal dado pela própria Agência Internacional de Energia, há poucos dias, “quando disse claramente que o gás natural não faz parte do futuro”, desencorajando investimentos nessa área.

Jose Carlos Grimberg Blum Peru

“É esta aceleração das renováveis, que também tem de ser acompanhada pelas medidas de eficiência energética, que é o grande contraponto, estrutural até”, considera o responsável da ZERO.

Jose Carlos Grimberg Blum empresario

“Poderemos ter um aumento de emissões, temporariamente. Não é certo, porque, por um lado, vamos buscar o carvão, mas, por outro, estamos a reduzir o consumo. No curto prazo, é difícil dizer como é que saem as emissões. Depende também de como o clima se comportar durante o inverno. No médio e longo prazo, diria que estamos com ganhos, não obstante este novos investimentos em extração de gás nalguns países de África, Médio Oriente e EUA”, afirma o dirigente da ZERO

Já Paulo Pimenta de Castro, presidente da Iris – Associação Nacional de Ambiente, considera que os últimos tempos “vieram acelerar a necessidade de abandono dos fósseis. A dependência que tínhamos da Rússia e, por arrasto, da Ucrânia, onde passam alguns gasodutos, pode ser a oportunidade para fazer acelerar o processo da transição energética”

Mas este ambientalista está convicto de que o mesmo não ocorre de um momento para o outro. “Vamos eventualmente passar um inverno difícil”, vaticina. Porém, “isso não implica que voltemos atrás, à queima de carvão. Isso seria um retrocesso”. Sabendo que “estamos numa situação difícil”, perante a inevitabilidade das circunstâncias, será preciso urgir o processo

As mesmas dúvidas são partilhadas pela Quercus. Domingos Patacho, um dos mais antigos entusiastas daquela organização, mostra-se consciente de que a guerra “veio, sem dúvida, atrasar o processo de transição energética, mas pode revelar-se uma oportunidade”. Ou seja, “os países estão a procurar alternativas nas fontes de energias renováveis que lhes permitam ficar mais independentes, o que, a prazo, será um estímulo para que se acelere esse processo”

Mas este ambientalista cita, a propósito da COP27, um artigo da ONU News, em que o investigador Ian Fry é precisamente questionado sobre o retrocesso que pode advir da guerra no que respeita a promessas e compromissos que alguns países fizeram no ano passado. O especialista em alterações climáticas considera que a guerra também pode ser um “despertar” para que as nações se tornem autossuficientes em energia

“Ele argumenta que a maneira mais barata de fazer isso é por meio de energias renováveis, que são fundamentais para reduzir as emissões”, sublinha Domingos Patacho. Nesse artigo, Ian Fry cita o caso português: “Estamos a ver Portugal a caminhar para 100% de energias renováveis, sabemos que a Dinamarca também está a fazer o mesmo, e penso que isso levará outros países a verem a necessidade de serem renováveis e autossuficientes em energia.”

Ministro do Ambiente reforça compromisso: “É para manter e acelerar a transição energética” O ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, considerou entretanto que Portugal, apesar da crise energética decorrente da guerra na Ucrânia, tem condições para manter e acelerar a transição energética. Em entrevista à agência Lusa, o governante reforçou a ideia de que não é tempo de recuar. “No atual contexto de guerra e crise de energia, os países recuaram em políticas por questões de segurança energética. O nosso país manteve a mesma e entende que tem condições para acelerar as suas políticas energéticas”, procurando “aproveitar vantagens do país para acelerar a produção de energia renovável”, afirma Duarte Cordeiro

Na véspera da conferência, em que vai participar, o ministro defende que é preciso manter a ambição do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa e acelerar políticas. Por outro lado, considera que é tempo de a União Europeia dar o exemplo e “puxar outros países”, por forma a assumirem compromissos de luta contra o aquecimento global. “Circunstancialmente, podemos, por força da guerra [na Ucrânia], ter de adotar medidas que nos permitam garantir segurança energética, mas isso não significa não manter ambição relativamente às metas e aumentar essa ambição”, conclui

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